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A arte como espaço e dispositivo para a expressão da linguagem e do pensamento do sujeito.

Por Neide Silva


O texto é uma introdução para tratar e dialogar com os saberes da psicanalise na estrutura do sujeito afetado pela arte. Levantar discussão de aspectos da subjetividade e como as artes implica no desenvolvimento da criança. Visando a arte como um processo de brincar/prazer e crescimento, tanto do conhecimento de mundo quanto de si mesmo com suas emoções, sentimentos e angustias.

É no brincar que a criança se refaz, interfere no meio em que vive, dá vazão a seus pensamentos e ações. As interações pelas brincadeiras e jogos atrelados aos seus impulsos revelam desejos pueris.

Um herói representado em uma história infantil traz sentimentos de potência, integralidade e imortalidade para a criança. O seu eu (ego) frágil está em construção, tanto quanto seu supereu, este como um agente controlador dos impulsos advindos do isso (id). E nesse brincar, a inquietude e calmaria para ela são dispostos para que busque a verdade de si, a reboque (que está) dos desejos dos pais.

Como veio ao mundo; se são amados, por exemplo, são questões da maior importância para os pequenos. O brincar é uma demanda de amor e o desejo de ser adulto como os seus pais povoam seu imaginário: cultura / linguagem - símbolos / ritos / sacrifícios.

No brincar, a criança projeta suas sensibilidades e necessidades. Ao fazer uma releitura do brinquedo, do brincar, uma criação de si mesmo com os seus impulsos, burla a realidade do meio como forma de recriar a si mesmo. Impulsos são desejos reprimidos pelo superego, e também pelo social, naquele em que somos postos para a preservação da cultura.

Abrimos mão do nosso princípio do prazer, fase dos primeiros anos de vida para podermos crescer e sobreviver, nos atrelando a realidade. No entanto, os impulsos reprimidos estão sempre em movimento na estrutura psíquica. O eu (ego) atendendo as exigências do superego estará sempre em acordo com o Isso (id), deslocando o desejo para objetos que o tragam prazer e sejam aceitos em nossa cultura.

A obra de arte é ISSO, um dos mecanismos de deslocamento de prazer sublimado. Em O mal estar da civilização, se lê que

Outra técnica para afastar o sofrimento reside no emprego dos deslocamentos de libido que nosso aparelho mental possibilita e através dos quais sua função ganha tanta flexibilidade. A tarefa aqui consiste em reorientar os objetivos instintivos de maneira que eludam a frustação do mundo externo. Para isso, ela conta com a assistência da sublimação dos instintos. Obtém-se o máximo quanto se consegue intensificar suficientemente a produção de prazer a partir das fontes do trabalho psíquico e intelectual. Quando isso acontece, o destino pouco pode fazer contra nós. Uma satisfação desse tipo, como, por exemplo, a alegria do artista em criar, em dar corpo às suas fantasias, ou a do cientista em solucionar problemas ou descobrir verdades, possui uma qualidade especial que, sem dúvida, um dia poderemos caracterizar em termos metapsicológicos. (FREUD, 1997, p. 28).


Obra de arte emprego como toda forma de criação de impulsos sublimados: artes plásticas; literatura; música; dança. Artes que são compartilhadas e aceitas em nossas culturas. O compartilhamento de uma criação, para um leitor, possibilita o prazer do sujeito; assim, o leitor incluído, recria a própria existência, a verdade de saber de si mesmo. Intervindo na cultura, o artista experimenta o crescimento, tanto quanto o leitor.

Nessa busca de se conhecer, como no caso da criança, a pessoa se interessa pelo conhecimento do mundo. A alfabetização pode ser de muito interesse para os pequenos, pois promove essa descoberta de si e do mundo. O livro infantil possibilita o brincar e o refazer no mundo, traz o saber da cultura (linguagem/psíquico) da criança.

A literatura infantil é um apoio para a criança na construção do conhecimento/alfabetização. Referindo-se ao alfabetizar, intervém olharmos para o sujeito em busca do conhecimento que está vinculado à própria busca do ser. Um sujeito cultural vivenciado com o Outro, que se constitui a partir de um corpo.

Saber da sexualidade como constituição do sujeito instrumentaliza-nos não apenas com relação às funções das distintas fases do desenvolvimento humano, mas da funcionalidade do processo. Implica entender a representação que a criança tem para a família e de como se posiciona frente a isso, bem como ao seu próprio desejo diante do Outro.

A literatura é arte como espaço e dispositivo para a expressão da linguagem e do pensamento do sujeito. Possibilita a escuta de si. No processo de aprender há possibilidades da desconstrução da alfabetização e olharmos a criança no viés de sua história de vida, para que possamos escuta-la. Uma escuta voltada para a economia pulsional do sujeito e das fases de constituição da criança e suas implicações.

Na fase de latência, a criança está mais disposta para as atividades culturais e a aprendizagem, porém, muitas vezes esta fase carrega questões de fases anteriores e deixa de ser aproveitada de maneira mais adequada na aprendizagem escolar. Traumas e/ou experiências excessivamente dolorosas que a criança sofreu anteriormente acabam acarretando a Dificuldade de Aprendizagem que, segundo Ferreira (2008), leva as crianças a ficarem mais frágeis, tendo um baixo nível de estímulo e confiança, o que pode levá-las à falta de motivação, isolamento, crises de angústia, estresse e até mesmo depressão.

Escutar traz como diretriz o sujeito no centro da busca do saber, um sujeito afetivo, emocional e sociocultural; trazendo o processo formativo como singular de cada sujeito, fomentando pessoas para a liberdade do exercício critico em que está inserido, que possa debater ideias para a melhora da cidadania, democratização e promoção da valorização da diversidade.

A humanidade se encontra em permanente processo de transição sociocultural, no âmbito da educação formal e não formal, formando sujeitos com consciência crítica para intervir nas políticas públicas. É o que queremos, ou ao menos deveríamos buscar nesse estar no mundo.






FERREIRA, L.G. Duas visões psicopedagógicas sobre o fracasso escolar. Revista Psicopedagogia. V.25 n.77. São Paulo. 2008


FREUD, Sigmund. O Mal-Estar na Civilização. Rio de Janeiro: Imago, 1997.
















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