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Qual o lugar da pulsão num mundo tão organizado?




Vivemos nos tempos mais liberais da história da humanidade, a bandeira hasteada a torto e a direita é de liberdade, autonomia, independência, as pessoas cada vez mais defendem a frenesi da adolescência, que pensa “quando fizer 18 anos ninguém mais vai mandar em mim” ... os tempos mudaram, as relações de pais e filhos também, a severidade, a rigidez, o controle e o legislar sobre a vida do outro afrouxou, o imperativo exterior que ditava as regras suavizou, adolescentes e jovens não precisam mais gritar “quando eu fizer 18 anos ninguém mais vai mandar em mim”, desde muito pequenos esta geração já tem sido como disse Freud, “a majestade, o bebê”, esta nova geração já sabe desde muito cedo o que é fazer o que quiser, contudo algo aconteceu... “algo de errado não está certo, como diria esta juventude”... em tempos tão liberais, com poucos imperativos externos, com os pais dando autonomia aos filhos para tomarem suas decisões, onde o mundo do trabalho não é mais como era há trinta ou quarenta anos, em que as pessoas passavam a vida num único emprego, hoje se não está satisfeito parte para outro, de tal modo os casamentos que duravam uma vida toda, hoje já existem divórcios com 48 horas de casamento, pois se não está bom, se não era o que imaginava, parte para outro, e assim sucessivamente, em qualquer área da vida.... mas, contrário ao que o próprio Freud cogitou em O Mal Estar na Cultura, não é a falta de liberdade que é a origem das neuroses humanas, pois o que se vê, são pessoas que não tem desfrutado satisfatoriamente da liberdade de escolher, pois a escolha também tem trazido sofrimento, afinal escolher um, é abrir mão das milhares de outras opções, e sobretudo, é se responsabilizar pelos ônus de suas escolhas, o que muitas vezes, ou em todas as vezes, não é nada agradável, então o que se vê cada vez mais, são pessoas sendo engessadas pelo imperativo interno, pela rigidez do famoso e voraz supereu, a busca pela organização, controle, perfeição, produtividade, rendimento, se tornaram a máxima da sociedade contemporânea que goza na proatividade, no narcisismo inflado... o buuum do coaching que o diga, para os milhares de coach que brotam em árvores todos os dias, com receitas milagrosas de como ler mais, ser mais organizado, ser mais eficiente, organizar um guarda-roupa por cores, emagrecer sem dieta, produzir mais em menos tempo, conseguir o parceiro ideal, e tantas outras fórmulas milagrosas, para cada um deles, pelo menos uma pessoa se coloca como cliente, para alcançar o tão almejado ideal. Mas o que se sacrifica em busca desse ideal, que é apenas isso, ideal, ideia, idealização. Qual o lugar da pulsão num mundo tão organizado? Freud em “As Pulsões e seus Destinos” conceituou os termos correlacionados à pulsão, os quais são: pressão, meta, objetivo e fonte. A pressão é sua própria essência, o que possui um caráter impelente; a meta é sempre a satisfação; o objeto é o que de mais variável leva a alcançar sua meta; e por fonte se entende o processo somático no corpo que é representado pela vida anímica, então entendendo isso, pode-se questionar, para onde está sendo direcionada a pulsão, sempre constante e nunca satisfeita, para se manter tudo em ordem? Algum lugar recebe a vazão, para onde então está indo este “Quantum de Energia” formulado por Sig desde o texto “Projeto Para Uma Psicologia Científica” afinal com bem disse Freud noutro momento, “se a boca se cala, falam as pontas dos dedos”.


Mariana Ramon – Janeiro, 2021


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