Michéli Jacobi
“O Olhar está para além das palavras e fora do tempo. Quando ascende um instante, sua presença se eterniza e o tempo não apaga.”
Antonio Quinet em Um Olhar a Mais.
O filme trás a história de um cientista Ian Gray que pesquisa sobre a íris ocular, segundo ele cada pessoa tem par de olhos único uma íris única, Ian apresenta um interesse por descobrir a origem da visão, ele tenta em estudos de laboratório provar que o desenvolvimento do olho humano faz parte da evolução natural, e não precisaria de um “ designer inteligente”, Ian acredita na ciência, acredita em números, dados estatísticas. No filme ele tem ajuda de sua estagiária Karen e com outro cientista Kenny.
Podemos pensar inicialmente sobre o Significante do desejo e a demanda entrelaçados, desejo e demanda, a busca da origem da constituição do pisiquismo humano, que se intrelaçam do que o bebê vai vivendo, e quando ele fala da irís e que ela não se repete, cada pessoa tem par de olhos único podemos pensar então que a constituição da subjetividade que não se repete, e que cada sujeito é único com um psiquismo único. E diante do fascinação por olhos, podemos pensar a pulsão escópica como um dos caminhos possíveis dos destinos do desejo, desejo este inconsciente.
A pulsão escópica é auto-erótica. Em 1905 Freud pontua sobre a atividade auto-erótica, uma fase da constituição infantil onde a pulsão ainda não tem condições de ser direcionada a algo externo á criança, sendo que esta ainda não teria condições de elencar um objeto para uma satisfação pulsional, mas a teria em seu próprio corpo (corpo este que é cuidado, manipulado, erotizado, pela mãe) podendo assim mostrar para a criança a vida pulsional. (Segundo Ian desde criança ele observa os olhos e tira foto destes).
Assim para enterdemos a pulsão, retomo as quatro essências dela, a pressão, a finalidade, o objeto e a fonte. A pressão é inerente a toda e qualquer pulsão, é a energia constante, e sua finalidade é sempre a busca pela satisfação, (ativa ou passiva, a energia está em ambas) o objeto é o mais variado e este objeto “serve” para buscar a satisfação e a fonte é sempre o corpo. Mas essa busca pela satisifação é sempre parcial pois á algo que falta (castração). É diante deste movimento de Ian que ele pode se fascinar pelos olhos de Sofi.
Um dia, ele conhece Sofi, em uma festa e tira a foto do seu olho, e não a encontra mais em virtude de uma série de eventos que poderia ser mapeada, com certeza, mas dificilmente tabulada como nos processos científicos. Através do número 11 que aparece para ele rotineiramente em um dia no troco do dinheiro, no bilhete, no dia, na hora, nos minutos, no ônibus, quando desce do ônibis encontra os olhos de Sofi, os olhos que mudaram o mundo dele. Por meio dos olhos dela, consegue encontrá-la pela internet, num procedimento relativamente simples para quem está acostumado a solucionar complexas composições celulares, reações químicas e afins. Assim Sofi mexe com as verdade dele, Ian fica tomado por Sofi, assim como fica pelos números, e a encontra, porque de fato a procura.
Podemos pontuar aqui o que se vê, e o que ser quer ver, a pulsão escópica como vimos é um movimento na busca pela satisfação, mesmo que o objeto que serve de fonte para pulsão coincida com um orgão sensorial, está pulsão é parte do próprio corpo do sujeito, não é o olho em si, mas o que se quer ver com eles.
Ele encontra Sofi, e apesar da diferença de convicções. E aqui vamos pensar que essas diferenças, diante da Experiência da conscência de Hegel, a partir da experiência de cada um que se constitui a história pela experiência trazida a consciência. Segundo uma representação natural, a filosofia antes de abordar a Coisa mesma – ou seja, o conhecimento efetivo do que é verdade -, necessita primeiro pôr-se de acordo sobre o conhecer, o qual se considera ou um instrumento com que se domina o absoluto, ou um meio através do qual o absoluto é contemplado.
É pela Experiência em campos distintos que possibilitava o diálogo entre eles, possibilitava se falar, mesmo que se entedesse de formas diferentes. O conhecimento se torna instrumento para a verdade, e quando se usa intrumento essa verdade não se da por inteiro, mas quando somada ela se dá a verdade.
Para Freud a maioria das experiências são dirigidas pela pulsão, está nos faz agir, algumas experiências que se faz a partir da pulsão, não são conscientes, são incoscientes. Ian não tem ciência das pulsões mas é dirigido por elas. Assim cada pessoa da para sua experiência o valor que é significante para sua história, é na via das pulsões que nós somos distintos, diferentes.
Os dois decidem se casar, mas precisam esperar 24 horas para poderem se casar, nesse tempo a estagiária de Ian liga para ele, pois descobriu algo importante no laboratório que se trata de um avanço em seus estudos. Eles chegam ao laboratório, mas por um acidente cai um produto (Formaldeído) nos olhos de Ian, e o mesmo fica algumas horas sem poder enxergar bem. Eles segue para casa de Sofi, mas o elevador emperra e esta a ponto de cair, ele conseque abrir a porta, mas Sofi pede para que ele vá primeiro e depois ela, porém Sofi não sai a tempo, ele que é tão interessado por olhos, neste momento não pode ver direito. Por um desejo dela, ele a crema e joga suas cinzas na frente da estátua.
Ian passa um tempo sem ver sua estagiára Karen e o amigo devido a morte de Sofi, com o passar dos dias Karen vai a sua casa levar os estudos do laboratório e comida e depois disso iniciam um relacionamento para além de pesquisadores e se casam e tem um filho.
Enquanto Karen está gravida, eles Karen Ian e Kenny saem jantar em comemoração ao Livro que ele lança O olho Completo, e Ian sente o perfume de Sofi, mas quem está usando é a garçonete, Ian compra o perfume e depois disso encontra videos de Sofi e começa a se masturbar, logo entra Karen e vê o que está acontecendo, e expõe para ele a não culpa que sente, pois se caso não tivesse ligado para ele ir no laboratório, talvez Sofi ainda estaria na vida dele. Ele responde dizendo que naquele dia no elavador se perguntou se iria se prender aquela menina para o resto da vida.
No dia em que o filho nasce, (Tobias) fazem o exame no hospital de escaneamento da irís para fazer o cadastro do filho, porém aparece o cadastro de outra pessoa, (Paul que já havia falecido). Alguns dias depois outra médica pesquisadora entra em contato com Ian dizendo que diante dos exames de sangue e urina o Tobias poderia ter autismo, assim eles levam o filho para fazer mais exames, chamados exames de percpção.
Como bons cientista curiosos, e pela via do Desejo que Ian e Karen, começam a pesquisar sobre o estudo que a pesquisadora Simmons fala, e acabam encontrando que aquelas imagens que mostraram para o Tobias está relacionada a vida de Paul.
Apartir disso, passam a ver outras irís de olhos, e se existe algum que foi registrado e tenha duplicata no sistema, e assim encontram a irís de Sofi, mas são a irís de uma menians (Salomina) de 8 anos que mora na Índia.
Ian vai atrás desta menina, ele busca e encontra novamente pelos olhos. (Sim, vai ter que viver sempre com a menina). Ian e Karen fazem o exame de percepção para ver o quão poderia ser estatisticamente igual, a íris de cada uma Sofi e Salomina. Talvez o Desejo dele é que a íris do olho fosse igual a de Sofi. No final quando Salomina e Ian saem do quarto de hotel e vão pegar o elevador quando o mesmo chega Salomina entra em desespero e choro, ele a olha, e talvez ai a possibilidade de um adeus não dito anteriormente, um ponto final, para o início, talvez o início da análise.
Diante disso é possível pensar no processo de análise, Sofi mostra uma forma, outra forma de olhar, que era da experiência dela e passa da experiência dela para ele, é a partir das experiências com ela, que ele pode se inscrever e ver com outros olhos.
Referências:
FREUD, S. – Pulsões e sua vicissitudes. Obras completas. 1915. Biblioteca Nueva.
Buenos Aires, ed. El Ateneo. 2003.
FREUD, S. – Os três ensaios sobre a teoria da sexualidade. 1905. Obras Completas.
Biblioteca Nueva. Buenos Aires, ed. El Ateneo. 2003.
HEGEL, G. W. F. Fenomenologia do Espírito. 6. ed. Petrópolis, RJ: Vozes. 2011
QUINET, A. Um olhar a mais. Ed: Jorge Zahar. 2004
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