Hoje no Brasil, comemoramos o Dia Nacional dos Surdos - somos um país onde 9,7 milhões de pessoas apresentam algum distúrbio auditivo. A educação para surdos iniciou-se em 26 de setembro de 1857, no Instituto de surdos-mudos, fundado por Dom Pedro II, para o qual, foi convidado E.Huet, um professor francês surdo. De início o trabalho tinha por objetivo a escrita articulada e falada, a datilografia e a aprendizagem de sinais, e era oferecido para alunos de 7 a 16 anos. Hoje, este Instituto é o atual INES, Instituto Nacional de Educação para Surdos, e a preocupação se reflete também para a necessidade de inclusão dos surdos na vida social, deste modo, em 2005 conquistamos uma medida oficial e nacional, instituindo nos cursos de formação de professores a obrigatoriedade da qualificação na língua de sinais.
A Libras, linguagem brasileira de sinais, é considerada nossa segunda língua, e foi criada em 1857, a partir da mistura de sinais entre a língua francesa de sinais, trazida pelo professor E.Huet e os gestos já utilizados pelos surdos brasileiros.
Mas, e a psicanálise? O que tem a ver com isso? Tudo. Afinal, trabalhamos com a associação livre de ideias, com a palavra em sua enunciação, e a Libras, precisa ser entendida também como o discurso de um sujeito, ela é a lalangue dos surdos, das pessoas com deficiências auditivas em geral, e estes a usam para se comunicar. Isso significa que precisamos enquanto psicanalistas, desenvolver estratégias diante da problemática do discurso dos surdos na cultura, sobre ela e dela sobre eles, ainda mais, precisamos entender quais são as demandas e os desafios da psicanálise mediante esses pacientes; de qualquer maneira, é preciso promover espaço de discussão entre os analistas, de modo que possamos considerar este atendimento como mais uma das possibilidades em que a psicanálise possa se oferecer como processo de cura para o sofrimento do sujeito, mas acima de tudo, precisamos saber utilizar a Libras para que o discurso do sujeito em análise não seja intermediado por alguém, ou mesmo, pela escrita, pois que perderíamos parte das maiores riquezas para o acesso ao inconsciente, como os atos falhos, lapsos e chistes, mesmo com a presença dos sintomas e com o relato dos sonhos, ambos também seriam atravessados por outro discurso, que não apenas o do próprio sujeito, assim, se faz emergente o aprendizado da Libras.
Claudia A. Conti – psicanalista AMP
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